Ensinar: Instruir sobre: ensinar matemática.
Doutrinar: ensinar crianças. Educar. Mostrar, apontar: ensinar o
caminho. Escarmentar, castigar: ensinar um atrevido.
Educar: Desenvolver as faculdades físicas, morais e
intelectuais de. Instruir. Domesticar, adestrar. Aclimar
Instruir: Ensinar, lecionar, transmitir conhecimentos a.
Adestrar: instruir recrutas. Informar: instruir alguém do que se
passa. Documentar: papéis que instruem uma petição. Instruir uma causa,
colocá-la em estado de ser julgada.
In Dicionário Prático Ilustrado, Lello & Irmão
Editores, 1977
oder-se-á dizer que aquele que fornece, transmiti qualquer tipo de conteúdos a alguém (conteúdos que poderão ser bastante
variados, desde competências e destrezas físicas a conhecimentos teoréticos ou
regras de comportamento social) está ensinando? Então, para que servirão as
palavras educar e instruir? Ora bem, em minha opinião existe uma grande confusão
entre estas três palavras, tal como atesta a definição das mesmas que eu retirei
de um dicionário. Neste é usado, para definir a palavra ensinar, a palavra
instruir; para definir a palavra instruir, é usada a palavra ensinar. E para
definir educar, é usada mais uma vez a palavra instruir. Em que é que ficamos
afinal? Poderemos então dizer que sempre que estamos transmitindo uma
informação, qualquer que seja o conteúdo da mesma, estamos instuindo? Ou pelo
contrário, estaremos ensinando? Se calhar, vendo bem, devemos estar é a educar.
Ora bem, vamos lá pôr os pingos nos is: nem todas as ações que consistem em
transmitir um conteúdo (seja ele um conteúdo teórico, um comportamento social ou
uma destreza corporal) serão por certo ensino, tal como não serão todas
instrução, e muito menos educação. Portanto, considero deveras importante que se
tente clarificar, e de uma vez por todas, os diferentes sentidos destas três
palavras.
(...) Ora bem, comecemos então pela
palavra ensinar. O que poderemos nós considerar por ensinar? Bem, quando se fala
em ensinar, vem-nos logo à cabeça a escola, o professor ensinando aos alunos
como se lê, ensinando a fazer contas, (...) e por aí fora. Ora bem, e o que é que se aprende na
escola? Em princípio serão os conteúdos programáticos, os saberes temáticos e
teoréticos, dos quais constam a Matemática, a Língua Portuguesa, a História, e
por aí fora.
ssim sendo, quais serão as principais figuras desta interação? O
aluno e o professor, decerto. Quando afirmo aluno e professor, não quero que se
fique com a sensação que o ensino apenas se dá entre aluno e professor. Um pai
pode muito bem ensinar ao seu filho de cinco ou seis anos como se fazem contas
de somar, e isso não o intitula com o grau de professor. Mas o que gostaria de
salientar aqui é que o que se ensina são saberes teoréticos, e é isso que
distingue o ensinar das outras atividades acima mencionadas, o educar e o
instruir. Assim sendo, o local privilegiado onde se dá este ensino será a
escola.
o que quererá dizer a palavra educar? Mais uma vez, quando
pensamos nesta palavra, uma outra figura vem-nos à cabeça. E essa figura não
será muito diferente da que eu imaginei: um pai a dar um "chingão" no filho, por
este se ter portado mal. Assim sendo, quais serão os conteúdos da educação? Por
certo serão os valores, regras de conduta, normas, atitudes, costumes e
comportamentos sociais. E quem serão as figuras de tal processo? Por um lado,
quem está aprendendo, o educado. Por outro, quem educa. Esta atividade não
decorre num lugar tão restrito como aquele inerente ao ensinar. A educação
vai-se efetuando no nosso quotidiano, nos locais mais recônditos pelos quais
nós passamos. Estamos educando (e a sendo educados, entenda-se...) em casa, na
rua, ao ver televisão e a ouvir rádio, a ouvir o "chingão" do dono da loja
por não termos respeitado a vez de sermos atendidos, e por aí fora. Assim, tal
como esta educação pode tomar lugar nos lugares mais variados, também os
responsáveis pela mesma são muito variados. Tal como os pais e os familiares são
responsáveis pela educação (talvez em maior grau, é certo), também a televisão,
o vizinho do lado, o amigo ou o empregado de balcão estão permanentemente educando quem com eles interagem.
or fim, vem a instrução/iniciação. Talvez seja esta a categoria
que mais dúvidas poderá levantar para o leitor desprevenido. Ora bem, pensemos
mais uma vez numa imagem para a ação de instruir. Dificuldades? Eu ajudo.
Pensemos num instrutor da condução dando a respectiva aula, ou um pintor ensinando como se pintam telas a óleo. Quais os conteúdos desta instrução (ou
iniciação)? Será um saber fazer, uma destreza corporal, que o instrutor tenta
passar ao aprendiz. No entanto, não vamos considerar a tarefa dos instrutores
como sendo ensino. Pelo que já vimos anteriormente, no ensino os conteúdos são
saberes teoréticos e temáticos, enquanto que na instrução são saberes-fazer (o
savoir-faire dos franceses ou o know-how dos ingleses) e destrezas
corporais. Assim, a grande diferença entre ambos é o tipo de conteúdo
transmitido, o saber teorético versus o saber fazer. É a oposição entre a teoria
e a prática. E onde se dá esta instrução? Ora bem, dá-se no ginásio, na oficina,
no atelier de pintura, e por aí fora. Dá-se nos locais onde os conteúdos que são
transmitidos são predominantemente práticos, são sobretudo competências
corporais. E como se designam as figuras que participam nesta mesma atividade?
Pode ser o instrutor, que instrui o seu aprendiz (tal como nas marcenarias
existem os aprendizes de marceneiro, que aprendem com o instrutor), e pode ser o
mestre, que instrui o seu discípulo (tal como o mestre de artes marciais instrui
o seu discípulo na arte de combate).
stas três atividades (que, em princípio, já considera como
sendo diferentes, algo que a início talvez não acontecesse), tal como apresentam
diferenças nos conteúdos que são transmitidos, apresentam diferenças no modo
como se faz a transmissão dos conteúdos e no modo de aprendizagem. Nas tarefas
que podem ser designadas por ensino, o professor tem uma fala explicativa,
expositiva e demonstrativa, para ensinar os saberes teoréticos aos alunos.
Aliás, todos nós nos lembramos dos nossos professores que, no estrado em frente
a toda a turma, explicam aos alunos como se deu a independência do Brasil, e
que demonstram como se resolve uma equação do segundo grau. Por parte do aluno,
o que ele faz (ou tenta fazer) é compreender, assimilar o que foi ensinado por
parte do professor. Já na instrução, o mecanismo não funciona assim. O instrutor
mostra como se faz determinada tarefa, fazendo-a ele próprio. Serve de pouco, de
muito pouco, apenas dizer como se faz. É necessário que o instrutor dê o
exemplo, que mostre como se faz. E aí o aprendiz, com muita atenção, observa o
que o se instrutor faz, tentando em seguida imitar, repetir os gestos efectuados
por este. É o que se passa, por exemplo, com o oleiro, que à medida que vai
moldando um determinado pedaço de barro, tem ao lado o aprendiz, que vai
tentando imitar o seu instrutor, fazendo os mesmos movimentos num outro pedaço
de barro. E isto não se passa apenas com o oleiro, com o instrutor de karatê ou
com o mestre da pintura: também nós somos instrutores, na medida em que
instruímos os nossos filhos como escovar os dentes (atenção, não é porque
se devem escovar os dentes, é como se devem escovar os dentes), como segurar
o garfo e a faca à mesa, como amarrar os sapatos, e por aí fora. Estamos a
transmitir uma aptidão corporal, uma destreza física. Se estas duas atividades
ainda têm algumas semelhanças no que diz respeito ao modo de transmissão do
conhecimento, já com a educação o processo difere significativamente. O modo de
transmissão é bastante variado: tal como se pode educar através da fala
normativa (do tipo "tu deves fazer isto, tu deves fazer aquilo", uma fala
maioritariamente de dever), educa-se também através do exemplo que se dá (o que
faz com que estejamos permanentemente a educar, mesmo sem estarmos a fazê-lo
conscientemente). Educa-se também através de mecanismos de punição/recompensa: é
frequente os pais virarem-se para os filhos, e dizerem-lhes "Se você se comportar bem, te dou um sorvete" ou "se você voltar a se comportar assim vai ficar de castigo". O próprio
meio de aprendizagem, ligado com a educação, é significativamente diferente
daqueles característicos do ensino e da instrução. Assim, quem está sendo educado está obedecendo àquilo que lhe é apresentado como modelo, está aceitando
o modelo, está submetendo-se ao que lhe é apresentado. O processo de educação é
essencialmente um processo de aceitação, de submissão por parte do educado.
té o próprio espaço temporal inerente a estas três actividades
é diferente. O ensino é descontínuo (na medida em que não estamos sempre apredendo saberes teoréticos); a instrução tanto pode ser contínua como
descontínua (na medida em que só aprendemos como escovar os dentes uma vez na
vida, mas por vezes, ao longo da existência, vamos aprendendo outras
competências corporais, que anteriormente não possuíamos). Já a educação é um
processo contínuo, pelo que afirmei anteriormente: estamos permanentemente eduando e sendo educados, mesmo que não façamos nada para tal, o que é
significativamente diferente do ensinar: não estamos sempre ensinando saberes
teóricos.
ara finalizar, gostaria aqui de realçar que as fronteiras que
dividem estas três atividades não são completamente estanques. Existem
atividades que são elas próprias um misto de duas situações. Por exemplo, o
"ensinar" a conduzir, que eu afirmei anteriormente que era instrução, também tem
uma parte de ensino propriamente dita - o ensino do código da estrada, anterior
à instrução da condução. Do mesmo modo, na escola não se está apenas a ensinar,
está-se também a educar, na medida em que se incutem regras de comportamento
social, e a instruir, com disciplinas como os Trabalhos Manuais ou a Educação
Física, onde se transmitem destrezas corporais. E deparamo-nos agora com mais
uma confusão do nosso quotidiano. Uma disciplina com o conteúdo da que é
denominada por Educação Física, nunca deveria ter tal nome. Porque não se está educando o corpo nessas mesmas aulas; está-se, isso sim, instruindo o corpo,
transmitindo-lhe destrezas físicas (como se lança uma bola de basket, como se
remata uma bola de futebol, como se faz o salto a distância, e por aí fora).
sta confusão reflete-se nas definições presentes no
dicionário. Definem educar como "desenvolver as faculdades físicas, morais e
intelectuais de". Ora bem, nós já vimos anteriormente que estas três atividades
são diferentes. Quando estamos desenvolvendo as faculdades físicas de alguém,
estamos a instruí-lo; quando estamos desenvolvendo as faculdades intelectuais de
alguém, estamos a ensiná-lo. Só quando estamos desenvolvendo as capacidades
morais de alguém é que estamos a educá-lo. Não se pode definir educar deste
modo, uma vez que estas três atividades são diferentes (talvez não possamos
dizer que são radicalmente diferentes, mas que existem diferenças entre elas é
ponto mais importante). Tal como não é possível definir ensinar através das palavras
instruir e educar, e muito menos doutrinar. Doutrinar significa transmitir,
convencer alguém de uma posição política, religiosa ou filosófica. Como será
possível afirmar que ensinar alguém é estar a doutriná-lo? Também não é possível
dizer que a instrução é ensino - apesar de as atividades serem de fato
semelhante, difere significativamente tanto o conteúdo daquilo que é
transmitido, como os meio como são transmitidos e recebidos os conteúdos.
Fonte: http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/hfe/jogo/index.htm
OBS.: Texto adaptado do Português de Portugal.
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