quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Entre Agricultura e Ensino

Por: Maykon Israel


A esperança (educação) é uma planta bastante sensível, não basta apenas semeá-la, para que brote, essa semente precisa de uma série de cuidados... Cuidados que muitas vezes, não dispensamos, muitas vezes esquecemos, muitas vezes negligenciamos. E de quem é a culpa se a semente não brota?

Da semente? Do solo? Do semeador? Do clima?
O clima tem papel fundamental no desenvolvimento dessa semente, precisa ser ameno, nem muito “quente” pois pode “queimar” a capacidade germinativa. Nem muito frio, pois pode atrasar, ou até mesmo neutralizar tal capacidade. A amenização desse clima, só pode ser encontrada, se cuidadosamente estudada, planejada, desejada...
O solo deve ser: fertilizado, tratado, cuidado e irrigado. Diariamente revolvido, revirado e trabalhado. Para que se tenha uma planta de qualidade. Faz-se necessário ainda, que o agricultor seja constante em seu trabalho. Deve persistir em arrancar as plantas daninhas que insistem em brotar... Quebrar os torrões que podem atrapalhar o bom desenvolvimento dessa planta. Enfim, ser agricultor é ter uma atitude de amor e respeito pela vida.
O semeador é aquele que semeia, que conhece a teoria do desenvolvimento da planta, conhece toda sua estrutura genética, conhece toda sorte de insumos a serem utilizados, enfim domina como ninguém a ciência de semear.
Já o agricultor, não sabe a composição biológica (ao menos não prioriza tal saber), mas é também aquele que não se restringe ao ato de semear, pois além disso, ele tem consciência que deve também cuidar, irrigar, cultivar, esperar, perseverar, mesmo diante das intempéries, da casualidade, do capricho do tempo e espaço. O agricultor precisa ser um grande observador! Do tempo, do clima, do solo... Deve saber tratar a semente para evitar que se perca, enfim, semear é uma ciência, não um simples ato.
De nada adianta simplesmente lançar sementes ao ar e esperar que a sorte, ou o capricho da natureza cumpra seu papel.
Ao agricultor. A vida o fez mestre... Por estudar e respeitar a essência da natureza, do conjunto, de sua vocação... Pois semeador é profissão, agricultor é paixão.
Cada semente é, um ser frágil e singular. Embora tenhamos desvendado sua carga genética com tamanha precisão, que somos capaz de “construir” seres mutantes através da estrutura celular dessas sementes, ainda não somos capazes de reconhecer, analisar, dissecar, compreender o sopro, que mesmo contra a ciência, a faz única.
A semente é a estrutura mais perfeita, mais completa da natureza, pois além de carregar em seu interior o segredo da transformação, da vida, da adaptabilidade, do tempo, da história. Carrega a essência da individualidade.
Sem dúvida, embora aparentemente estejamos falando de biologia, agricultura, ciências. Muito do que discutimos, pode e deveria ser trazido para a seara do ambiente educacional. Através de uma análise profunda e detalhada do comportamento da natureza.
Fala-se muito em falência do ensino. Talvez exatamente por isso, por ainda acreditamos que precisamos “ensinar”, precisamos ser “professores” na vida... Aí esta o núcleo da falência. Agimos como semeadores, temos os conhecimentos científicos, metodológicos, teórico. Mas nos atemos ao ato de semear.
Esquecemos do restante... Do conjunto, e principalmente da paixão pelo objeto de nossas “profissões”. Exatamente por sermos “profissionais” cometemos o equivoco de estacionarmos no financeiro, sistemático. E fechamos os olhos para o social, natural, o “essencial”.
A universidade hoje forma Professores (semeadores), mas não leva em conta o papel do clima (ambiente) da semente (indivíduo) e do fruto (conceito de mundo). Cria seres sem alma, seres híbridos... Que embora conheça o necessário para executar sua função. Desconhece o essencial para ser bem sucedido em tal empreitada.
Mais e mais tais semeadores buscam criar uma raça (também híbrida) mutante, que na visão social (do sistema) Seria o ideal de produção. Mas esquece que pra que haja realmente uma variabilidade significativa é necessário cultivar e compreender as diferenças, com todas as suas surpresas... Afinal, isso possibilitou a transformação e a perpetuação das espécies.
Enquanto estivermos brigando por um “sistema educacional” estacionário, coletivo, semeador, vertical... Também estaremos também contribuindo para o estacionamento ou inversão da capacidade evolutiva da sociedade.
Então cabe a nós que fazemos parte desse “sistema” sermos: Professores (semeadores) ou Agricultores (mestres).
Semear é preciso, cultivar é necessário, colher é urgente!
Pois não temos muito tempo, o mundo tem fome, e sem uma grande colheita, estamos todos fadados à miserabilidade cultural, a falência múltipla da vida. A extinção da esperança!

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